31 de dez. de 2008

Estou há muito tempo sem atualizar este blog e peço desculpas a vocês. Estive ocupado com diversas obrigações de fim de ano, incluindo as importantes reflexões sobre o ano que passou e o próximo que virá. Não sei quanto a vocês, mas digo sem nenhum exagero que 2008 foi o meu melhor ano em muitos e muitos anos. Até mesmo os problemas e perdas que enfrentei serviram pra ressaltar meus ganhos e me tornar mais forte e sábio – aprendi muito com eles. Tenho fé que 2009 será ainda melhor pra mim. E desejo a todos vocês um ano novo tão bom ou até melhor!

13 de dez. de 2008

Dois recados atrasados. Vamos a eles:

1) Parabéns a Manoel de Oliveira, que agora sim completou 100 anos. Que venham mais 100.

2) Retrospectiva do Cinema Brasileiro do Cinesesc - No Cinesesc, entre 12 e 21 de dezembro. São 68 longas-metragens lançados em São Paulo deste ano. Imperdível.
Veja a seleção e programação.

10 de dez. de 2008

Parei de avaliar os episódios de séries de TV. Este será (pelo menos por enquanto) um blog exclusivamente sobre cinema.

Manoel de Oliveira 100 Anos

Palavra e Utopia (Manoel de Oliveira, 2000) = ****

Eu acho que teria captado mais particularidades dessa biografia pouco convencional de padre Antônio Vieira se me lembrasse das aulas de História (e pensar que era minha matéria preferida).

Contudo, Palavra e Utopia me comoveu por ser sobre a velhice. Ou melhor, sobre um velhinho (Lima Duarte, inesquecível), que continua a lutar pelo que é certo apesar da saúde se deteriorar com o tempo. Emociona duplamente se pensarmos que nosso inestimável cineasta centenário certamente se identifica com seu protagonista. Até porque ambos – personagem e diretor – dão grande valor ao poder da palavra.

Non, ou a Vã Glória de Mandar (Manoel de Oliveira, 1990) = ****

O melhor filme de nosso cineasta lusitano e centenário favorito? Pelo menos é o mais místico. É um antecessor do também genial Um Filme Falado. Estamos em Angola, durante a Guerra Colonial. Enquanto esperam ordens, um batalhão ouve dum soldado formado em história uma aula sobre alguns dos momentos mais infelizes da História antiga portuguesa - todos lindamente encenados por Oliveira.

Diante de tantas infelicidades, soldados e espectadores se perguntam: estamos condenados a repetir os erros do passado? Se o Destino existe, qual é nosso propósito final? Oliveira não responde, mas termina seu filme numa cena ambivalente: uma coincidência espantosa ou evidência de forças misteriosas? Cada um crê no que quiser.

9 de dez. de 2008

Appaloosa - Uma Cidade Sem Lei (Ed Harris, 2008) = **

Além dos diálogos saborosos (e quem entende inglês deve esquecer as legendas), fui surpreendido pela ambição do Harris em ser “previsivelmente imprevisível”. É o que diz o caubói de Viggo Mortensen ao ver Renée Zellweger entrar em cena. O filme é tão inconstante quanto ela e daí vem o charme de ambos: Appaloosa alterna clichês de aventura, romance e comédia, mas nunca da forma ou na ordem que esperamos. Pena que essas alternâncias nem sempre funcionam. Domar o imprevisível não é pra qualquer cineasta, mas quem sabe Ed Harris chega lá?

O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968) = ***

A revisão não mudou minha opinião sobre o filme. Continuo impressionado com a sede de Sganzerla em encontrar a qualquer custo formas de expressar nosso Brasil em fragmentos alucinados (convenhamos, discos voadores não estariam mesmo deslocados em nosso país). Infelizmente, também continuo achando que o filme aos poucos se dispersa e perde a força.

8 de dez. de 2008

Dois blogs acrescentados:

Cinema com Cana - do Júnior, também encarregado do Dicionários de Cinema.
Fabito’s Way - do Fábio, redator da Cinética

Murmúrios do Rio Fuefuki (Keisuke Kinoshita, 1960) = ***

Eu não me impressionei com o maior atrativo desta Sessão do Comodoro (que esqueci de avisar aqui no blog, foi mal): as cores pintadas a mão no negativo, tingindo a fotografia em p&b do filme. Achei a experiência cromática irregular, com erros e belos acertos.

O que me cativou foi como Kinoshita narra com clareza e agilidade as transformações duma família camponesa durante décadas de sucessivas guerras – sem sair da casa deles! A maioria das cenas são dentro ou nos arredores do lar. Como no rio do titulo, o tempo, as pessoas, as ambições e os governos passam e somem. Sobram a casa e o pranto dos sobreviventes.

São Bernardo (Leon Hirszman, 1973) = ****


Bom, é preciso lamentar que a exibição deste filme no Bombril em cópia novinha foi prejudicada por uma troca de rolos, que tornou a trama difícil de seguir no terço final. Agora, ao filme.

Falaram tanto de São Bernardo como sendo sobre “capitalismo isso e aquilo”, que fui na sessão com um pé atrás, temendo uma tese genérica sobre capitalismo. De filmes-tese, estou farto. Mas que beleza, Hirszman passa muita credibilidade ao retratar o modo implacável de ser e fazer negócios de UM fazendeiro específico (Othon Bastos, magnífico) em UMA região específica.

O casamento do fazendeiro – um negócio como tantos outros, com o único intento de gerar um herdeiro – não o amolece, mas revela suas rachaduras. Brechas sugerindo que há um tanto de interpretação consciente em sua figura rígida e autoritária (perfeitamente filmada em planos longos). Mesmo sem intenção, suas atitudes levam a mulher à loucura e morte.

Aí, na inesquecível cena final à luz de vela (foto), ele conclui que – embora lamente a morte dela – se pudesse voltar atrás faria tudo igual, pois sua natureza não o permitiria agir de outra forma. A vela se apaga e o fazendeiro deixa de ser homem e se torna sombra. Há uma mensagem aí (uma tese?) sobre o poder do dinheiro no homem, mas também há uma tragédia irreparável.

6 de dez. de 2008

Mais um texto (em inglês) do Serge Daney: For a cine-demography.

No ar, a nova edição da revista on-line e anual
Screening the Past.

Manoel de Oliveira 100 Anos

Começa hoje a mostra na Cinemateca Brasileira comemorando o centenário do mais jovem velho cineasta em atividade atualmente. Alguns filmes importantes dos anos 90 e 2000 (todos exibidos em DVD, infelizmente), além do primeiro longa (Aniki-Bóbó) e do primeiro curta (Douro, faina fluvial).
Veja a seleção e programação.

Por último, ontem estreou no circuito comercial (em projeção digital), A Fronteira da Alvorada, do Philippe Garrel. Quem perder a chance de (re)ver é mulher do padre. Appaloosa, do Ed Harris, parece curioso.

4 de dez. de 2008

Murnau é uma das minhas muitas omissões imperdoáveis como cinéfilo. Antes da mostra no CCBB-SP, eu só conhecia Nosferatu, que vi uma vida atrás e não lembro quase nada. Infelizmente, não foi possível salvar completamente minha dívida com o grande cineasta alemão, mas deu pro gasto. Eis meu ranking dos filmes dele (deixei Nosferatu de lado por mal me lembrar dele).

Poemas Visionários: O Cinema de F.W. Murnau

1º Aurora (F.W. Murnau, 1926) = ****

Este ainda vai receber um post próprio. Basta dizer que é, sem nenhum exagero, um dos melhores filmes que vi na vida.

2º City Girl (F.W. Murnau, 1929) = ***

Uma pérola pouco conhecida do mestre. Lembra Aurora, sem ter a força e beleza deste (quantos filmes tem?). Assim como Aurora, o final feliz não é garantia de nada. A vida a dois (no campo ou na cidade) é uma luta a ser travada todos os dias. Lindo.

3º A Última Gargalhada (F.W. Murnau, 1924) = ***

Uma pequena decepção. O filme se concentra demais no protagonista e não aprofunda outros elementos de interesse (como a relação do porteiro com os vizinhos, por exemplo). Mas é um belo estudo sobre classes sociais e o poder que uma farda exerce.

4º Terra em Chamas (F.W. Murnau, 1921) = ***

Engana-se quem pensar neste filme como um conto de redenção moral. No fim o protagonista é punido não por sua ambição financeira, mas por não demonstrar nenhum amor pelas mulheres que cruzam seu caminho. E o desfecho não tem nada de feliz, pois o anti-herói viverá e morrerá como seu pai: pobre e doente.

5º Fantasma (F.W. Murnau, 1922) = **

Alguns belos momentos, mas o protagonista é um pouco Werther demais pro meu gosto. Assim como Terra em Chamas, o excesso de personagens atrapalha. Mas ao contrário deste, Fantasma de fato é uma simples trajetória de redenção moral.

3 de dez. de 2008

Queime Depois de Ler (Joel & Ethan Coen, 2008) = *

Um filme desagradável, ainda que ocasionalmente divertido. Neste deboche das tramas de espionagem, Frances McDormand acredita que uma cirurgia plástica irá resolver todas as suas carências. Os outros personagens apresentam questões parecidas. Cada cena e cada diálogo apenas confirmam o diagnóstico dos EUA como um país ocupado demais com questões superficiais. Eventualmente as certezas dos Coen cansam e sufocam as piadas.

O Pântano (Lucrécia Martel, 2001) = ***

Rever filmes é essencial. Gostei muito mais de O Pântano nesta segunda vez. Não lembrava do quanto ele era assustador. Os poucos personagens com batimentos cardíacos lentamente se entregam e morrem (de forma metafórica ou literal). Como não afundar no lodo do pântano da miséria humana? Na última cena a menina diz que “não viu nada”. Então aprender a ver (o cinema, a vida) é vital. E então rever.

7º Festival Varilux de Cinema Francês.

Beijo na Boca, Não! (Alain Resnais, 2003) = ***

Um dos beijos mais belos do cinema recente: um homem e uma mulher – que não se suportam – beijam-se pra salvar a relação de outro casal (uma longa história...). A câmera focaliza os pés dela aproximando-se hesitantes dos pés dele e... ela literalmente sai voando. Levando em conta que o homem não beijava ninguém há décadas (daí o título), esse beijo tinha mesmo que ser mágico. Uma delícia de ver.

2 de dez. de 2008

Hoje tem uma sessão imperdível! Acabei de ler no blog da Ilustrada que nesta terça haverá a primeira exibição - grátis! - em São Paulo da cópia restaurada de São Bernardo, de Leon Hirszman. A adaptação da obra de Graciliano Ramos será exibida às 20h no Cine Bombril.

Em seguida haverá debate, contando com a presença do ator Othon Bastos, o diretor de fotografia Lauro Escorel, além do Ismail Xavier e Sérgio Rizzo.

Agente 86 – 02.02 Strike While the Agent is Hot (Gary Nelson, 1966) = **

Smart como líder das negociações sindicais de seus colegas espiões é uma ótima idéia, que rende diálogos hilários. Principalmente porque é justamente sua dedicação (e competência!) na nova função que o faz dar as trapalhadas de sempre durante uma investigação rotineira. Só faltaram mais piadas físicas.
Problemas pessoais me afastaram do cinema (incluindo a mostra do Murnau, infelizmente) e do blog, por isso a falta de atualizações na reta final deste mês. Mas o blog já entra nos eixos novamente. Por enquanto fiquem com o ranking de novembro.

Cinema

007 Contra o Satânico Dr. No (Terence Young, 1962) = *
007 - Quantum of Solace (Marc Forster, 2008) = **
Aurora (F.W. Murnau, 1926) = ****
Beijo na Boca, Não! (Alain Resnais, 2003) = ***
City Girl (F.W. Murnau, 1929) = ***
Diário dos Mortos (George A. Romero, 2007) = ****
Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (Peter Hedges, 2007) = *
Êxtase dos Anjos (Koji Wakamatsu, 1972) = 0
eXistenZ (David Cronenberg, 1999) = ***
Fantasma (F.W. Murnau, 1922) = **
Hannah Takes the Stairs (Joe Swanberg, 2007) = 0
Kadosh - Laços Sagrados (Amos Gitai, 1999) = ***
Leonera (Pablo Trapero, 2008) = ***
Meu Nome é Dindi (Bruno Safadi, 2007) = *
Moscou contra 007 (Terence Young, 1963) = **
O Pântano (Lucrécia Martel, 2001) = ***
Queime Depois de Ler (Joel & Ethan Coen, 2008) = *
[REC] (Jaume Balagueró & Paco Plaza, 2007) = *
O Silêncio de Lorna (Jean-Pierre & Luc Dardenne, 2008) - *
Terra em Chamas (F.W. Murnau, 1921) = ***
Tudo Perdoado (Mia Hansen-Love, 2007) = *
A Última Gargalhada (F.W. Murnau, 1924) = ***
Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen, 2008) = **

TV

Agente 86 – 02.01 Anatomy of a Lover (Bruce Bilson, 1966) = *
Agente 86 – 02.02 Strike While the Agent is Hot (Gary Nelson, 1966) = **