28 de fev. de 2009

Oscar 2009
Pra mim, a observação mais interessante sobre o Oscar deste ano não veio de nenhum crítico. Veio do filme A Troca, de Clint Eastwood (indicação pra Angelina Jolie). Sendo específico, da seqüência final.

O desfecho (quem não viu, considere-se avisado) se dá anos depois da execução de um assassino de crianças que provavelmente matou o filho de Jolie. Ela, contudo, ainda acredita que o menino está perdido, mas vivo. É dia do Oscar e a mulher aposta – corretamente – em Aconteceu naquela Noite, de Frank Capra. Subitamente, é avisada que uma das vítimas foi encontrada viva! Ela corre pra delegacia e descobre que o menino em questão é filho de outra. Confiante, a protagonista diz que o engano apenas aumentou sua esperança de encontrar o filho. Ela sai pela rua e nós a perdemos na multidão. Um plano geral da cidade mostra, no fundo, um cinema exibindo Aconteceu naquela Noite (foto). Fim.

O que essa cena diz sobre o Oscar? Bom, nos filmes de Frank Capra a América sempre dá certo. O país tem problemas, claro, mas a bondade das pessoas comuns e a confiança nas instituições prevalece no final. A ironia é que o filme que vimos até então, A Troca, mostrou um EUA bem diferente. De homens e instituições desprezíveis. Mas o Oscar insiste em premiar uma imagem do país mais confortável. A de Capra.

Não estou dizendo que filme bom é filme pessimista. Apenas me espanta a seriedade com que alguns encaram a cerimônia. Leio um crítico repetir todo ano o discurso que “o Oscar está ficando adulto”. Aos 81 anos, ainda estaria na adolescência?

O Oscar é publicidade. Os candidatos são eleitos por sua popularidade (não confundir com bilheteria). Raramente premia obras estranhas e pessimistas, como ano passado. Mesmo assim, um cínico diria que um país que celebra um capitalista impiedoso (Sangue Negro) e um assassino implacável (Onde os Fracos...), está mandando uma mensagem pros inimigos.

Tudo bem, torcer pelos favoritos pode ser divertido. Mas analisar seriamente se o Oscar deste ano foi justo é ridículo. Acho produtivo debater porque certos filmes fizeram sucesso na premiação. Basta lembrarmos disso: tudo que está na moda tem significado, mas nem sempre tem valor.

13 de fev. de 2009