25 de nov. de 2008

Isto aqui é bom demais: Retaguarda da vanguarda - Francis Vogner sobre a Mostra SP.

Moscou contra 007 (Terence Young, 1963) = **

Melhor que Dr. No, principalmente porque o carisma de Connery está a serviço da trama ao invés de ser o único interesse do filme. O fato dos coadjuvantes (incluindo a Bond girl) terem personalidade também ajuda. A etapa final, basicamente uma série de perseguições ao 007, é especialmente eficiente.

Agente 86 – 02.01 Anatomy of a Lover (Bruce Bilson, 1966) = *

Quase todos os episódios da série (com importantes exceções) são parecidos entre si. A graça do programa está na maneira como as mesmas piadas são contadas de forma diferente. Mas este episódio só as repete sem inspiração. Simpático e só.

21 de nov. de 2008

Kadosh - Laços Sagrados (Amos Gitai, 1999) = ***

Uma raridade, um Gitai cuja longa duração dos planos se justifica totalmente. É o tipo de filme que detratores acusam de panfletário (denúncia da opressão feminina entre judeus ortodoxos). Na verdade, Kadosh é um retrato do profundo racha entre desejos humanos e disciplina rigorosa de comunidades ortodoxas (e dessas comunidades com a sociedade laica). Cena exemplar: a mulher que não quer se casar de jeito nenhum – nem com o homem que ama, nem com o horroroso noivo arranjado – experimenta feliz da vida o vestido de noiva. Poucas vezes vi o mistério da alma feminina captado com tanta lucidez.

007 Contra o Satânico Dr. No (Terence Young, 1962) = *

O primeiro 007 é o típico filme de astro. Ou seja, construído pra vender uma imagem: neste caso, da masculinidade agressiva, mas refinada do James Bond (um perfeito Sean Connery). Infelizmente esse é o único aspecto do filme pelo qual Terence Young mostra interesse. O restante é bem frágil.
Texto (em inglês) do Serge Daney sobre John Ford.

Dois blogs acrescentados na coluna lateral:

Passarim - do Daniel Caetano

Dicionários de Cinema - traduções de críticos renomados como Daney, Lourcelles, etc. ótima iniciativa do Luiz Soares Júnior.

7º Festival Varilux de Cinema Francês.

Começa hoje no HSBC Belas Artes. São sete filmes, seis deles inéditos no Brasil. A seleção inclui o último Honoré, um Resnais (Beijo na Boca, Não!), a estréia na direção da Valeria Bruni (Atrizes) e Elogio ao Amor, do Godard.
Confira a seleção e programação.

19 de nov. de 2008

Poemas Visionários: O Cinema de F.W. Murnau

Essa mostra é imperdível! Começa hoje no CCBB-SP (e vai até 30 de novembro) a comemoração dos 120 anos de nascimento de Friedrich Wilhelm Murnau, o grande cineasta alemão. A retrospectiva apresenta os doze filmes sobreviventes do diretor, quase todos em película. Para saber a programação do evento é só
clicar aqui.

17 de nov. de 2008

A Liga dos Blogues postou hoje o Ranking Festivais 2008. É o resultado da votação entre os membros pra definir os melhores filmes exibidos no Festival do Rio e na Mostra de Cinema de SP. Meus votos estão alguns posts abaixo (faltou Leonera, que só vi depois da Mostra). Comparando as duas listas vocês vão perceber que fiquei muito satisfeito com o resultado da eleição...

OBS: se tivesse me lembrado que poderia ter votado em filmes vistos na Mostra SP 2007 mas exibidos no Rio este ano, eu teria encaixado A Viagem do Balão Vermelho e Na Cidade de Sylvia de qualquer jeito.

16 de nov. de 2008

Penélope Cruz Scarlett Johansson
Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen, 2008) = **

Parafraseando o narrador do filme, Allen não sabe o que quer como cineasta – mas sabe o que não quer. Ainda bem. Vicky Cristina Barcelona é constrangedor sempre que torna-se mais calculado (os outros americanos, por exemplo). Mas é uma delícia na maior parte do tempo, quando esquece a trama e aproveita o charme do elenco. Ao abandonar a sisudez e obsessão pela morte dos longas anteriores, Allen fez seu filme mais vivo em anos.

[REC] (Jaume Balagueró & Paco Plaza, 2007) = *

Este terror segue exclusivamente o ponto de vista duma câmera, semelhante A Bruxa de Blair e o excepcional Diário dos Mortos de George Romero. Mas diferente do último Romero, [REC] jamais coloca a câmera – ou seja, a suposta verdade das imagens – em questão. Nem tece comentários sobre a espécie humana. Na verdade é um filme sem assunto. Tudo bem, ele tem alguns sustos caprichados. Mas... é só isso que a gente quer dos filmes de terror?

14 de nov. de 2008

O Silêncio de Lorna (Jean-Pierre & Luc Dardenne, 2008) - *

Primeiro plano: a albanesa Lorna saca dinheiro no banco. Segundo plano: ela planeja o futuro com o namorado pelo telefone. Ou seja, a moça necessita de grana pra realizar seus sonhos. Grana que virá se participar dum esquema que inclui matar seu marido - um viciado com quem se casou pra tornar-se belga. Contudo, Lorna hesita. Talvez porque – devido a sua etnia – saiba o que é ser uma pessoa descartável. É um dilema interessante. É uma personagem interessante.

Mas os outros personagens precisavam ser tão simplórios? Os cúmplices dela são sempre pragmáticos, egoístas. O marido é quase sempre frágil, chorão. Não são pessoas, são ferramentas pra reforçar o dilema de Lorna e o alerta humanista dos Dardenne. O assassinato do marido nem é filmado, só pra surpreender o espectador. Os Dardenne agem igual aos criminosos do filme – tratando seus personagens como objetos descartáveis.

13 de nov. de 2008

Leonera (Pablo Trapero, 2008) = ***

Uma mulher grávida é presa por um homicídio que não lembra se cometeu. Ela é encarcerada num pavilhão exclusivo para presidiárias gestantes e seus filhos pequenos. Pablo Trapero só observa – sem julgar – o surrealismo de viver com crianças atrás das grades.


Quando parece que ele esgotou o estoque de situações fortes e inusitadas, seu interesse se volta pra protagonista e o filho. Aí Leonera torna-se um melodrama (com entrega visceral da atriz Martina Gusmán) sobre maternidade como expressão de vida e liberdade. O filme começa com uma mulher confusa e termina com ela lúcida o bastante pra escolher seu caminho.

11 de nov. de 2008

eXistenZ (David Cronenberg, 1999) = ***

Cronenberg brincando de ser Cronenberg, num filme sobre percepção de realidade (ou seja, cinema e mídia em geral). De fato, eXistenZ às vezes ameaça ser um mero catálogo de elementos recorrentes da sua filmografia, mas o pulso do diretor bate forte nas horas certas. Pena que embora heróis e espectadores nunca saibam onde estão pisando, Cronenberg sempre sabe, o que limita as possibilidades.

10 de nov. de 2008

Bom, a Liga dos Blogues pediu uma lista minha dos melhores filmes vistos na Mostra SP. Aproveito e publico ela aqui:

Top 10 Mostra SP 2008

1º Aquele Querido Mês de Agosto (Miguel Gomes, 2008) = ****

Vejamos... esse filme é um documentário sobre os tipos e causos de certa região de Portugal, uma seleção de apresentações de rock meloso português, cenas picaretas dos bastidores das filmagens (com um Miguel Gomes hilário interpretando a si mesmo) e um melodrama sobre o primeiro amor. O mais incrível é que tudo isso se encaixa não só como conceito, mas como narrativa também. Tudo coroado com bom humor e despretensão. Realmente genial.

2º A Fronteira da Alvorada (Philippe Garrel, 2008) = ***

Depois de Amantes Constantes, Garrel arma outra angustiante encruzilhada entre passado e futuro, liberdade e responsabilidade, política e conformismo. Ao ver um filme desses, você quase acredita que a arte de encenar, enquadrar e fotografar um filme está em extinção. Talvez Garrel acredite nisso.

3º Sonata de Tóquio (Kiyoshi Kurosawa, 2008) = ***

Uma comédia/drama sobre a difícil luta pela sobrevivência econômica e convivência mútua duma tradicional família japonesa. E dá pra perceber a experiência do diretor com filmes de terror. Kurosawa se mostra aqui um mestre nas imagens e sons (mas nem sempre na narrativa).

4º Deixe Ela Entrar (Tomas Alfredson, 2007) = ***

Uma pérola da Suécia. Uma linda história de afeto entre um psicopata mirim e uma vampirinha... e a gente torce por eles! Fofinho e macabro.

5º A Floresta dos Lamentos (Naomi Kawase, 2008) = ***

Demora um pouco pra engatar, mas depois o filme transborda VIDA (da felicidade ao desespero) em cada fotograma. Seqüências extraordinárias, só que o filme perde força entre elas.

6º Horas de Verão (Olivier Assayas, 2008) = ***

O que fazer com o passado? Preservá-lo? A seqüência no museu é triste pra burro. Criar uma nova história (os jovens no jardim, no desfecho)? Não é a resposta, mas é inevitável.

7º Segurando as Pontas (David Gordon Green, 2008) = **

Cinema político americano dos bons, justamente porque sua política não é tão evidente. Texto meu
na Paisà.

8º O Canto dos Pássaros (Albert Serra, 2008) = **

O filme foi tão odiado pelo público da Mostra (sessões sendo abandonadas em massa), que quando eu finalmente o assisti, ele me surpreendeu pela leveza e bom humor. Os três Reis Magos são geniais.

9º Steak (Quentin Dupieux, 2007) = **

Uma comédia sobre códigos de conduta que ditam quem tá "in" e quem tá "out"? Talvez. Um filme muito esquisito? Com certeza.

10º Loki - Arnaldo Baptista (Paulo Henrique Fontenelle, 2008) = **

Sim, é convencional (pensado pra TV, inclusive). Mas poucos filmes convencionais emocionam assim. A ausência de Rita Lee é tão intrigante quanto prejudicial.
Indie – Mostra de Cinema Mundial

Hannah Takes the Stairs (Joe Swanberg, 2007) = 0

Banal, esteticamente limitado e com atuações nível Youtube. Contudo, fiquei comovido com essa defesa dele, que me fez entender o projeto de Swanberg. Eu só não tenho paciência pra ele.

Tudo Perdoado (Mia Hansen-Love, 2007) = *

Fiquei em dúvida se a anemia do filme era proposital pra aumentar o impacto dos poucos momentos de emoção (a esposa abandonando o marido é uma pancada e tanto) ou se Mia tinha se contaminado pela apatia do protagonista, um pai de família desmotivado e viciado. Aí começa a segunda parte do filme, muito forte, especialmente ao lidar com a memória do espectador sobre a primeira parte. Estréia irregular, mas promissora.

9 de nov. de 2008

Meu Nome é Dindi (Bruno Safadi, 2007) = *

Eu queria ter gostado mais, porque sou favorável a qualquer filme brasileiro que arrisca a construção de um tom onírico. Aqui, freqüentemente de pesadelo, embora algumas passagens surpreendam pela beleza. Porém, as idéias de Bruno Safadi nunca entram em harmonia e o filme não forma um todo sólido. Mas eu não riscaria o nome dele da lista de cineastas promissores. Belo uso dos olhos esbugalhados da Djin Sganzerla.

8 de nov. de 2008

Em termos de cinema, poucas coisas me deixam mais triste que ver um filme brasileiro sozinho numa sala de cinema.

Aí, quando o filme está pra começar, entra mais um cara e eu fico me perguntando se ele é um serial-killer.
Ainda Quantum of Solace: é interessante como o dinheiro é a fonte de problemas nos dois últimos 007. Em Cassino Royale a missão de Bond é recuperar uma maleta de dinheiro; em Quantum of Solace é impedir uma negociação empresarial.
007 - Quantum of Solace (Marc Forster, 2008) = **

As cenas de ação nunca empolgam porque, ao contrário de Cassino Royale, elas são confusas demais. Depois dum começo vertiginoso e chato, Quantum of Solace melhora muito assim que o elenco recebe um material mais interessante pra trabalhar. Giancarlo Giannini ganha a melhor cena, enquanto Mathieu Amalric se diverte interpretando Nosferatu – o que faz muito sentido, já que as empresas e governos são vistas como vampiros. Prefiro o filme anterior.

Indie – Mostra de Cinema Mundial

Êxtase dos Anjos (Koji Wakamatsu, 1972) = 0

Por quê o Exército das 4 Estações luta tanto contra o governo quanto entre eles próprios? A total falta de detalhamento das motivações dos personagens por si só não garantiria meu completo desinteresse. É que o filme gira o tempo todo em torno das intermináveis discussões deles a respeito de suas incompreensíveis convicções. É uma escolha consciente de Wakamatsu, mas que torna o filme insustentável.

7 de nov. de 2008

Indie – Mostra de Cinema Mundial

Não custa avisar que esse evento começa hoje. Nos próximos dias serão exibidos 40 filmes no Cinesesc. A seleção alterna títulos de pouca e nenhuma repercussão. Ou seja, é o ideal pra quem gosta de arriscar. O maior destaque deve ser mesmo a retrospectiva do japonês Koji Wakamatsu. Quem quiser mais dicas pode conferir no blog novo do
Filipe Furtado. Veja a programação do Indie, clicando aqui.
Emily Blunt

6 de nov. de 2008

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (Peter Hedges, 2007) = *

Steve Carell se apaixona pela namorada do irmão quando a encontra por acaso numa livraria. Mas o diretor Peter Hedges é tão preguiçoso que ele resume este encontro a um clipe vagabundo de música sentimental e frases soltas dos personagens. Assim não dá pra acreditar na paixão do Carell. É um vício de certo cinema contemporâneo evitar filmar o prosaico porque isso supostamente é chato.


Uma burrice, pois até algo tão corriqueiro quanto duas pessoas conversando numa livraria pode ser especial nas mãos certas. No mais, é o tipo de filme cujas imagens de bom gosto impõem um tom morno e sabotam cenas que poderiam render mais gargalhadas – como o chuveiro e a dança no bar.
O nome deste blog é uma homenagem ao último filme do Yasujiro Ozu, A Rotina Tem Seu Encanto. E olha a picaretagem: apesar de ser fã do Ozu, eu nunca vi o filme em questão! Mas acho que o nome funciona muito bem como uma declaração de princípios deste blog. A paixão pelo cinema como rotina, como uma parte indispensável da (minha) vida. Eu pretendia detalhar porque este blog será melhor que o anterior, mas prefiro que vocês descubram isso aos poucos.